quarta-feira, 17 de abril de 2013

Religião e política, uma velha/nova questão


Não sou a pessoa mais indicada para avaliar os rumos da Igreja Católica ou de qualquer outra igreja, seja ela qual for, visto que no momento não tenho nenhum engajamento nas mesmas. Também não sou nenhuma “cientista política” ou intelectual gabaritada para fazer a melhor das análises conjunturais do meu país. Porém, não posso isentar-me de me sentir provocada diante dos últimos acontecimentos que tomam conta dos espaços de comunicação, como a televisão e as redes sociais, especialmente a eleição do Pr. Marco Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de deputados e a escolha do novo papa após a renuncia de Bento XVI. Mas afinal, o que esses dois acontecimentos aparentemente tão distintos tem em comum?

Quando ainda tinha um engajamento pastoral, na igreja católica, na Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) já me questionava sobre tudo o que a igreja representava para mim e para o mundo. Sempre me incomodou o fato de na minha comunidade eu tentar testemunhar uma religiosidade profética e encarnada, com base na Teologia da Libertação e seus horizontes, ao mesmo tempo em que, direta ou indiretamente, compactuava com uma instituição essencialmente patriarcal, hierárquica, excludente e moralmente desconexa com a realidade e os acontecimentos do mundo.

Sim, compactuava. Porque, embora questionasse aquilo como algo com o que eu não concordava, a comunidade com a qual eu estava vinculada era parte do todo que é a igreja católica. Por mais que parecesse distante, toda aquela pompa vaticana era respaldada nos discursos dos sacerdotes, mesmo daqueles mais progressistas, e nos ritos que compunham as celebrações, sacramentos etc. Compactuava também quando por muitas vezes presenciava a opressão de pessoas por seus ideais, orientação sexual, por serem mulheres, pobres etc., e nada fazia. Compactuava quando eu mesma me enquadrando nestas particularidades me calava e omitia.

Porém, desvinculei-me da igreja católica sendo muito grata aos anos de aprendizado que tive desde a infância. Principalmente àquilo que aprendi no despertar de uma consciência crítica, fruto da formação que tive ao lado dos meus amigos de militância pastoral. Se hoje me sinto indignada diante de ‘aberrações’ como a eleição do “Pastor” Feliciano à presidência da comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e diante da alienação que insiste em fazer parte do ideário católico durante a eleição do novo papa, é graças a esse tempo bem vivido.

Acho um absurdo se falar de uma “bancada evangélica” no cenário político brasileiro. Não em referencia ao que esse termo “evangélica” designa literalmente, mas pelo que representa essa mistura nem um pouco interessante de “velha política” com religião. Pois, expressa nada mais do que a capacidade que a humanidade tem de regredir em seus avanços. Se as igrejas continuarem querendo cada uma se afirmar como hegemônica em função de seus interesses e crenças, talvez elas ganhem no quesito poder e disputa, mas cada pessoa perde em humanidade e singularidade.

É preciso questionar, se opor e não se calar diante daquilo que é feito em função da opressão. Algo deve ser feito, seja no engajamento político-social, no desejo ativista por igualdade, na formação educacional ou mesmo na expressão de alguma crença. Não é errado ter ou não ter uma religião ou uma opinião religiosa que vá de encontro com aquilo que é desejado pelos demais, desde que não nos falte o respeito às diferenças, às liberdades e, principalmente, à laicidade do Estado.

A eleição papal e a eleição do Pr. Feliciano tem em comum o sinal de que mesmo depois de séculos de mudanças estruturais na nossa sociedade e de avanços no que diz respeito aos Direitos Humanos, ainda nos deparamos com velhas práticas em novos contextos. Um novo papa não representa uma ‘nova igreja’, mas a possibilidade desta e principalmente de seus fieis, reverem o seu papel diante das demandas do mundo. Uma comissão de Direitos Humanos liderada por alguém que não representa o que estes direitos figuram, não quer dizer que estes direitos perderam a sua real importância ou que simplesmente podem ser negligenciados sem nenhuma reação, mas sim que nós, seres humanos, precisamos ficar atentos aos golpes que a ambição maquiada de ideário religioso/moralista se propõe a dar em um país onde corrupção é sinônimo de estratégica de governo e a política não passa de um substantivo comum e abstrato.


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